quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Bispos defendem o fim do celibato e ordenação feminina

Progressistas estão entusiasmados com o sínodo pan-amazônico (O Teatro já está armado)

Veja a matéria abaixo sobre a posição de 3 bispos, inclusive um ítalo-brasileiro:  

Via catholicus.org: 

Bispos dizem que o modelo de sacerdócio faliu; é preciso mudar já

Com diferença de poucos dias, três bispos saíram a público para anunciar o que parece óbvio, mas é um tema tabu na Igreja: o modelo atual/tradicional de sacerdócio faliu e é preciso encontrar novos caminhos. Falaram sobre o assunto o bispo de Macapá (AP), dom Pedro Conti, o da diocese australiana de Parramatta, dom Vincent Long Van Nguyen, e o recém-nomeado bispo de Innsbruck, na Áustria, Herman Glettler.

O tema do sacerdócio na contemporaneidade suscita uma série de outras questões: o fim do celibato, a ordenação de homens casados, o diaconato e o sacerdócio feminino, a comunhão para divorciados em segunda união e os temas vinculados ao universo da sexualidade. São assuntos historicamente entrelaçados e que mobilizaram intensamente a Igreja nos anos 1980-90,quando foram vetados pelo governo conjunto de João Paulo II e do cardeal Ratzinger.
O silêncio foi imposto à custa de editos de tom imperial, censuras, repreensões públicas e privadas, remoções e punições  em cascata, como as do padre e teólogo alemão Eugen Drewermann (1991), proibido de ensinar, da teóloga e freira brasileira Ivone Gebara (1995), condenada ao silêncio e exílio na Europa por dois anos, as seguidas sentenças contra o teólogo alemão Hans Küng, e a proibição liminar para o debate sobre estes temas no âmbito das conferências episcopais nacionais.
O assunto ficou sufocado durante mais 30 anos e volta timidamente agora, com as rachaduras que a primavera de Francisco provoca na crosta de gelo do longo inverno conservador.
Dom Vincent Long Van Nguyen, que chegou à Austrália como menino refugiado do Vietnam, é hoje o bispo da diocese de Parramatta, no subúrbio de Sidney, a quinta maior do país. Ele é o líder católico australiano mais identificado com o Papa Francisco e uma esperança para o futuro de uma Igreja devastada pela praga da pedofilia -entre 1980 e 2015, quase 4.500 pessoas denunciaram abusos sexuais contra menores cometidos pelos 1.880 membros da Igreja local, o que significa 7% do clero do período, percentual que chegou para mais de 15%, em algumas dioceses. Dom Nguyen foi, ele mesmo, vítima de abusos .
O bispo australiano concedeu uma entrevista ao Tablet na qual falou sobre a profunda crise da Igreja australiana e mundial.  Para ele, o “o modo antigo de ser sacerdote serviu a Igreja que amamos. Mas este modelo de sacerdócio exaltado, destacado e elitista está agonizando”. Dom Nguyen afirma corajosamente que é hora de uma reforma profunda e “não uma mudança meramente cosmética ou pior, um retrocesso rumo ao restauracionismo”.


O que há com a Igreja hoje?  “Muito do que está errado com a igreja hoje provém de uma caricatura da liderança e do serviço cristãos. No que me diz respeito, a crise do abuso sexual é apenas a ponta do iceberg.” Ele deu um exemplo do que é essa caricatura, lembrando da primeira vez em que confessou-se (o sacramento da Reconciliação), quando era criança: “Nosso pároco caminhou igreja adentro não como um servidor humilde, mas como um senhor feudal. (…)Quando me ajoelhei para confessar, no confessionário escuro, não consegui dizer uma palavra. Fiquei paralisado de medo. Não impressionado pelo meu silêncio, o padre imediatamente saiu do confessionário e arrastou-me pela orelha, colocou-me no fim da linha e deu-me uma bofetada no rosto antes de voltar a sentar-se” -e isso não aconteceu há tanto tempo assim, considerando a idade de dom Nguyen (55 anos), o episódio deve ter ocorrido na entrada da década de 1970.
Alinhado ao Papa Francisco, ele propõe um caminho de reorganização da Igreja: “A Igreja só pode ser fiel à sua missão quando abraça de forma plena e inequívoca a jornada adentro da vulnerabilidade divina. Ela só pode ser o canal da compaixão e falar o idioma da esperança para uma humanidade quebrada quando personifica verdadeiramente a impotência e fica onde Cristo esteve, firmemente ao lado dos marginalizados e os mais vulneráveis ”.
Dom Pedro Conti, um italiano apaixonado pelo Brasil desde que chegou ao Pará em 1983, concedeu uma longa entrevista ao padre Luis Miguel Modino, pároco de São Gabriel da Cachoeira (AM) publicada em Religión Digital. Ele dá um passo adiante  e apresenta um caminho a partir do diagnóstico de dom Nguyen .
Para o bispo ítalo-brasileiro os padres celibatários, formados no modelo tradicional, deveriam “cuidar mais da formação” e que a Igreja deveria abrir as portas para que os casados fossem ordenados. Eles deveriam cuidar da celebração das missas, da escuta das confissões, entre outras atividades: “Estas pessoas poderiam celebrar a Eucaristia e perdoar os pecados também”. Para o bispo, haveria uma combinação entre padres celibatários (por escolha voluntária) e casados. Os celibatários “com maior liberdade para mover-se, com mais tempo e condições de acompanhar as comunidades” e os casados “alguém que tenha uma renda, uma formação básica e sobretudo liderança”.

Dom Conti diz que sua diocese está pronta para experimentar o novo modelo –ele está à espera de uma autorização de Roma para começar: “quando e como é algo que depende do Papa Francisco”.
Dom Herman Glettler , defendeu em várias entrevistas depois do anúncio de seu nome para diocese de Innsbruck, na Áustria, que é urgente a ordenação de mulheres ao diaconato: “Isto seria um passo maravilhoso e muito importante”. Mais ainda: ele afirmou que “não é utopia” esperar que elas sejam ordenadas ao sacerdócio. Da mesma maneira que dom Conti, ele defendeu enfaticamente a ordenação de homens casados. Ele se disse entusiasmado com a Amoris Laetitia, que está sob fogo cerrado dos conservadores e afirmou que o direito à comunhão dos divorciados em segunda união “do ponto de vista evangélico, faz muito sentido”.
No governo de sua diocese, dom Glettler anunciou que irá potencializar “as responsabilidades e liderança” dos leigos, e não apenas como medida para desafogar os sacerdotes, mas para “repensar estruturalmente” a organização das paróquias, rumo a uma “nova maneira” de fazer Igreja.
Pode parecer pouco apenas três bispos defenderem abertamente mudanças radicais no sacerdócio, como tem feito seguidamente o Papa. Três bispos num universo de mais de 5 mil parece uma gota no oceano. Mas o fato de eles abrirem um debate que esteve sob bloqueio completo por 35 anos é sinal de que a primavera pode derreter o gelo –mas será necessário tempo para isso.

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